Nessas paragens montanhosas decorreu a longínqua infância de um que nunca voltou, a não ser de breves visitas esporádicas pra matar saudades, rememorar velhos sonhos, ressuscitar personagens da antiga mitologia familiar, sentindo a cada volta a pungência de ver o quanto mudou e se esfumou a paisagem de outrora. Mundo perdido de perdidas possessões.
O que era tão grande e espaçoso, amplo e transbordante aos olhos pequenos demais do menino, assume agora, aos olhos crescidos, cansados dos vaivéns da vida e de tão prolongadas ausências, proporções não menos gratas à contemplação das belezas naturais, mas carentes das ilusões do olhar inocente, inexperiente, de certa forma reduzido – de outros tempos.
E certa dose de nostalgia de tantas coisas passadas… definitivamente perdidas.
Gente antiga, vultos familiares, bichos, plantas, o caudaloso rio quase seco, um mero riacho solitário, sem as grandes pedras roliças de um tempo, meu bezerro de pelo fulvo da vaca de estimação, a selvagem Rosada, braba, fernética, na linguagem do avô, o patriarca-mor da região, dono em seu tempo de quase tudo o que se via, meu Rucinho trotão, que a estas alturas estará pastando bendodele nas verdes campinas do paraíso equino, a inquieta passarada, tuins na paineira gritando de alegria e manchando de verde o ar azul da serra, sanhaços, bentevis, sabiás, anum, tico-tico, rolinha, pica-pau, a seriema gritona armando aquele fuzuê no cocuruto do morro, o buliçoso casório dos casais de joão-de-barro, e nas encostas e capoeiras o esplendor amarelo e roxo dos ipês…
ai, melhor parar, senão…
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