Ainda subsistem macabros signos da época nefasta, e só aos poucos, parece, vai-se limpando a área num longo processo higiênico de alta voltagem e árdua realização, caso não paralizem essa faxina moral as obscenas forças da mais retrógrada e incorrigível direita espanhola. A impertinente presença de maus espíritos, sombras de velhos demônios que por quatro décadas empestearam o espaço vital da Penín-
sula, parece imune aos mais ingentes exorcismos das tentativas democráticas.
Guardei daquela primeira passagem alguns verdes da Rioja, Vitoria, um malíssimo hotel de beira de es-
trada, a dura silhueta da Catedral de Burgos marcada por afiladas pontas e arestas, de Valladolid e Za-
mora nada. De regresso da velha Lusitânia, após ter desfrutado por um mês os indescritíveis recantos
e encantos da Terra, por último Évora, chave de ouro, chegou a vez das extremenhas Badajoz e Mérida
e depois de muito sobe e desce pela tortuosa Toledo com um sol feroz e alguma chuva, tudo para ver
com pressa turística a misteriosa Catedral, o Alcázar e a Casa de El Greco.
A seguir Madrid, onde só me lembro de uma rápida visita ao Prado, “Las meninas”, “La maja desnuda”,
a “Anunciação” de Fra Angelico, o “Cordeiro” de Zurbarán e um Caravaggio, creio que o “David”, nada
mais, e por fim —via Guadalajara e Zaragoza— o deslumbrante espetáculo teatral dos rochedos de
Montserrat. Barcelona City ficou para a próxima.
O último deslumbramento foi deparar com as antigas muralhas, o Arco Romano, a Puerta Árabe e a
Plaza Mayor de Medinaceli, onde tarde da noite todos tiveram de sair de seus hotéis e casas para
presenciar um eclipse da lua.
Madrid e Barcelona só foram revisitadas ultimamente por motivos profissionais. Diante de uma alter-
nativa, ainda não saberia qual das duas metrópoles escolher… se fosse o caso.
Seguro que há rincões mais atraentes e com melhor qualidade de vida. Se possível à beira-mar, claro.
Tinha ouvido falar muito bem da Península do Morrazo. Por isso viemos para cá e aqui estamos, con-
tentes e felizes, em companhia de gente amabilíssima e bons amigos – entre eles, grandes artistas.
Foto: pátio em Toledo
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